terça-feira, 19 de julho de 2016

Contribuição da Unidade Classista para o IX Congresso do Sintrasem

1. Temos acompanhado as manifestações na França contra a reforma trabalhista do governo Hollande, que visa retirar o máximo de direitos possíveis para favorecer o aumento dos lucros dos capitalistas. Soma-se a essa tentativa de retirar direitos em todos os países, a formatação em escala global de um estado policial que visa impedir que os lutadores e trabalhadores pudessem se manifestar contra essas medidas, ou seja, estamos vivendo a montagem de um aparato estatal que não respeita nenhum direito dos trabalhadores. Ainda temos a grande crise migratória que afeta diversos povos que em seus países passam por guerras ou ocupações estrangeiras, como o caso dos sírios, que migram para a Europa para que lá forcem a redução do valor do trabalho, ou seja, aumentem o exército industrial de reserva. Essa crise é sistêmica, pois abala todas as estruturas do modo de produção capitalista e os capitalistas se utilizarão de todos os meios para restabelecer a taxa de lucros e com isso partem para o ataque contra os trabalhadores e de qualquer governo que não faça a sua política, como nas ocupações da Síria, Líbia, Iraque, Afeganistão e na substituição de governos por meio de manobras como em Honduras, Paraguai e Ucrânia. O que passaremos a viver no próximo período será ainda mais difícil, pois os ataques aos trabalhadores aumentarão, bem como as medidas repressivas. Além do que, não estão descartadas novas guerras por recursos minerais e para movimentar força de trabalho. Isso requer dos trabalhadores mais organização e solidariedade, ou seja, a luta de um é a luta de todos.

2. Os últimos anos no Brasil foram marcados pela falência da política de Conciliação de Classes implementada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados desde 2002. O PT surgiu dos Movimentos Sociais (Sindical, Estudantil, Trabalhadores Sem Terra, dentre outros) durante as lutas da Classe Trabalhadora contra a Ditadura Civil-Militar e por conquistas de direitos para os trabalhadores. Um partido considerado “de esquerda” que foi contrário às privatizações das Estatais Brasileiras e inclusive defendeu o não pagamento da Dívida Externa na campanha de 1989 à presidência. Porém, o PT em 2002 já não era o mesmo, na Carta aos Brasileiros (leia-se Carta à Burguesia Nacional e Internacional) o partido busca acalmar os ânimos dos investidores deixando claro que iria cumprir todos os acordos comerciais e financeiros firmados por FHC e que daria continuidade à política econômica que estava sendo implantada no país. Além disso, apontam medidas que iriam colocar em prática para deixar o país “mais eficiente e competitivo” as grandes Reformas (Trabalhista, Tributária e da Previdência). Após ganhar as eleições de 2002 o PT seguiu à risca a “Carta” e de fato construiu um novo “contrato social”, Lula conseguiu com maestria realizar um grande pacto entre as Classes, agradou boa parte dos exploradores e explorados terminando seu mandato com 83% de aprovação. A forma pra chegar nesses números foi priorizar os capitalistas (desoneração fiscal, terceirização do Ensino Superior através do PROUNI, corte de verbas para as áreas sociais para o pagamento da dívida pública1, etc.) e algumas poucas políticas voltadas aos mais pobres (Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Aumento do Salário Mínimo), porém, as reformas estruturais voltadas para a classe trabalhadora nunca aconteceram. O que ocorreu foram as Reformas do Estado, dando continuidade ao que havia sido aplicado no governo anterior, mantendo os ditames dos organismos multilaterais, ocorre durante o governo Lula a Reforma da Previdência e Tributária em 2003 que atacaram direitos da Classe Trabalhadora. Nove anos depois o Superior Tribunal Federal (STF) julgou e chegou à conclusão de que o governo teria comprado apoio parlamentar para garantir a aprovação destas duas reformas (Previdência e Tributária) dentre outras medidas, no que ficou conhecido como o “Mensalão”. Esse não foi o único escândalo de corrupção do governo petista, foram inúmeros casos no âmbito Federal, Estadual e Municipal. O caso que mais causou estrago nos últimos anos foi envolvendo a Petrobrás, a investigação conhecida como “Lava-Jato”. Apesar de os indícios apontarem para o envolvimento de diversos partidos incluindo os gigantes (PT, PSDB, PMDB), a oposição com apoio da grande mídia têm usado o episódio para acabar de vez com o partido que dominou a política nacional na última década, o PT. Os casos de corrupção; a crise do capital que chegou com força ao Brasil pós-eleição presidencial (maquiada e empurrada para frente pelo governo petista através da redução de impostos e incentivo ao consumo); o aprofundamento dos ataques aos direitos da classe trabalhadora no segundo mandato da presidente foram a combinação perfeita para a oposição dar o “golpe de misericórdia” no partido que já foi o grande representante da classe trabalhadora e movimentos sociais, mas que virou as costas para sua base eleitoral para fazer um pacto com a burguesia e se manter no poder. O PT foi negando ponto a ponto as características mais visíveis do seu discurso original: ética na política, transparência na gestão, proximidade das bases, desapego a cargos na máquina pública e independência frente ao capital. Priorizou a aliança com os grupos representativos do capital financeiro, do agronegócio, da grande indústria e do comércio, manteve intocado o monopólio da mídia e confiou em um Judiciário a serviço dos interesses das classes dominantes.2 Desde 2002, o golpe é contra a classe trabalhadora! Ao mesmo tempo presenciamos o avanço de uma onda conservadora que se amplia no país e no Congresso, com o aumento das bancadas religiosas, do agronegócio e dos empresários.


3. No enfrentamento crise, surgem duas frentes conjunturais. A Frente Brasil Popular de caráter governista, formada hegemonicamente por PT, PC do B e a presença de alguns movimentos sociais como o MST; e a Frente Povo Sem Medo, que surge contra a retirada de direitos e contra o “golpe”. Agora, a saída para os trabalhadores é pela esquerda, conscientizando seus companheiros a enfrentarem os ataques do capital contra seus direitos, capitaneado pelo presidente ilegítimo Michel Temer, e construir um grande Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT) e dos Movimentos Populares para formar um grande bloco de esquerda anticapitalista e revolucionário! “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores!” (Karl Marx).

Ilha da Magia ela é do povo, não é da burguesia

4. Em Florianópolis, todos os governos anteriores e principalmente no atual governo do prefeito Cesar Sousa Júnior (PSD), usaram a mesma receita do governo central: ataque aos trabalhadores, sucateamento dos serviços públicos, privatizações e austeridade fiscal para enfrentar a crise econômica. O cenário atual dos trabalhadores municipais revela muito desses ataques. Os movimentos de greves e as pautas de reivindicações foram constituídos de forma reativa a esses ataques. Como exemplo, esse ano, após uma dura greve dos trabalhadores e trabalhadoras que se estendeu por mais de duas semanas de enfrentamento massivo contra o Executivo Municipal, muito pouco se avançou, na verdade o que se pode chamar de vitória foi ao menos a manutenção de direitos já conquistados, que agora inclusive estes já são alvos do Prefeito. O decreto 15.959 de 01 de Abril de 2016 aplica uma série de medidas de cortes no orçamento que atinge em cheio os trabalhadores do município. Atualmente temos um rombo nos cofres da Prefeitura causado pelos próprios gestores representantes da classe burguesa e como medida adotada pelo Prefeito César é um ataque direto aos direitos dos trabalhadores aumentando IPTU e colocando projetos de leis que dão direito a esses parasitas retirarem dinheiro da previdência para cobrir o rombo causado pelos mesmos. Enquanto, o Prefeito junto com vários comparsas da câmara de vereadores está envolvido em escândalos como a “Moeda verde” e a “Ave de Rapina”, a COMCAP vai sendo privatizada; a máfia das empresas de transporte “público” segue a lucrar cada vez mais; Empresas hospitalares de olho na Saúde. Todos os cortes tanto na PMF quanto na COMCAP escancaram o projeto de sucateamento do serviço público aplicado pelo prefeito. A receita é antiga: Sucateia, endivida e precariza para depois terceirizar. Nas escolas faltam materiais e merenda, nos postos de saúde a falta de materiais e medicamentos já é uma realidade. A condição de trabalho precário não é diferente para a grande parte dos trabalhadores das demais secretarias da PMF, que também suspendeu a concessão das licenças prêmios até o final do ano. O Acordo Coletivo não foi cumprido pela PMF. A Prefeitura não enquadrou as Auxiliares de sala na Classe técnico, nem pagou a 2ª Parcela do PCCV e PCS do quadro civil. O cronograma de pagamento foi modificado e os salários irão atrasar. Enquanto isso, vemos uma direção sindical que não faz questão de unir as categorias dos serviços públicos municipais (COMCAP e PMF) e que se mantém na CUT, que está longe da base dos trabalhadores e atua como freio na luta de classes. Diante deste quadro de austeridade a classe trabalhadora precisa resistir e se organizar. Não podemos aceitar que a conta da crise seja paga por nós. Temos que manter as mobilizações, as greves, ocupações e paralisações na perspectiva de barrarmos a ofensiva do capital e as medidas de conciliação de classes. A Unidade Classista reafirma que os trabalhadores devem participar dos sindicatos, construindo a unidade pela base e fortalecendo o bloco de lutas contra a ofensiva do capital.

Organização e Movimento Sindical no Brasil3

5. Se na sociedade o ciclo hegemônico do PT começa a fazer água, no movimento sindical algo correspondente acontece com a CUT, braço petista no sindicalismo. Desde a segunda metade dos anos 90, a CUT se consolidou como a principal central sindical do país.

6. Essa hegemonia foi construída com base no prestígio adquirido desde a sua fundação, em 1983, quando, encabeçando as lutas e liderando oposições sindicais combativas, ganhou a direção de grandes sindicatos em todo o país. Bem entes da chegada do PT ao governo com a eleição de Lula, a Articulação Sindical corrente política majoritária neste partido e na CUT, começa, ainda nos anos 90, um processo de acomodação e colaboração com o patronato.

7. São desse período, iniciativas como o banco de horas, negociações de parcerias com as empresas, as câmaras setoriais, todas elas priorizando os acordos em detrimento de greves e mobilizações. Foi emblemática, nesse sentido, sua filiação à CIOLS4, atual CSI5, no quarto congresso da CUT em setembro de 1991.

8. A partir de 2003 com o governo Lula, esse curso se modificou, muitos quadros oriundos do sindicalismo Cutista foram alçados a cargos na máquina administrativa e mandatos parlamentares, fenômeno que reforçou a estreita colaboração da Central com o governo, passando a funcionar quase como um departamento de RH das empresas ou do Ministério do Trabalho.

9. A tendência desse sindicalismo de resultados, cujo pioneirismo pertence à Força Sindical, foi além da CUT. Diversas outras congêneres adotaram a mesma linha se alinhando a correntes burguesas dominantes nos estados e municípios. Por sua vez, a resistência à esquerda contra esse processo de adaptação e colaboração de classes, se deu de forma débil e fragmentada. As iniciativas, em sua maioria a partir do rompimento de correntes que atuavam no interior da CUT enfrentaram um período bastante adverso, mantendo-se organizadas em pequenas oposições, poucos sindicatos e entidades de servidores públicos.

10. A situação que poderíamos definir como de uma certa apatia do movimento sindical começa a sofrer mudanças ainda no primeiro governo Dilma onde já se verificam os efeitos de uma política econômica voltada para proteger os interesses do capital diante da crise internacional aberta em 2008. Com o esgotamento da política de ampliação do consumo através do crédito e das desonerações fiscais para empresas, o crescimento econômico inicia uma trajetória de queda, logo as empresas começam a endurecer as negociações salariais e a intensificar a rotatividade da mão de obra, com demissões e suspensões do contrato de trabalho "lay-offs".

11. Nesse contexto é que observamos um retorno das lutas: são os funcionários públicos, trabalhadores da construção civil, rodoviários, metroviários, professores, metalúrgicos, garis - uma infinidade de categorias retoma o caminho das greves. Em muitos casos essas greves acontecem apesar ou mesmo contra as direções sindicais, assim os trabalhadores começam a vivenciar um novo ciclo de aprendizado e experiência na luta sindical e política após duas décadas de hegemonia da incontestável colaboração de classes.

Avançar na reorganização da classe trabalhadora e organizar o ENCLAT

12. É chegada a hora de dar um salto qualitativo na reorganização sindical, na conjuntura atual marcada pelo processo do Impedimento da presidenta Dilma e pelo esgotamento do ciclo Lulo- Petista, a realização do Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT) torna-se importante instrumento no processo de retomada dos esforços unitários da classe trabalhadora e dos movimentos populares, num patamar qualitativamente superior para o necessário enfrentamento aos ataques do capital.

13. Entendendo que a CUT hoje na sua incondicional defesa do PT, atua no sentido de frear a luta dos trabalhadores contra os ataques do capital é extremamente necessário a desfiliação do SINTRASEM da CUT, para que sigamos no caminho de um sindicalismo combativo, classista e sem conciliação. Para se manter filiado à CUT, o SINTRASEM repassa mensalmente 10% da sua receita. Dinheiro que a Central deveria usar para promover a luta dos trabalhadores, mas ao invés disso usa o dinheiro dos sindicatos filiados para manter suas superestruturas burocráticas e no máximo promover atos na defesa dos governos petistas. A Unidade Classista tem como proposta realizar no segundo semestre de 2016 o seminário Pré-ENCLAT, convidando CSP-Conlutas, as Intersindicais, MST, MTST, Oposição de Esquerda da UNE, ANEL, Sindicatos e Movimentos Sindicais do campo classista, unitário e combativo com a finalidade de avançar no processo de reorganização da Classe Trabalhadora.

Plano de Lutas

Redução da jornada sem redução de salários;
Garantia de estabilidade no emprego;
Em defesa da COMCAP 100 % pública;
Unificação das datas-bases PMF e COMCAP;
Revogação de todas as leis da Reforma da Previdência (Governos FHC, Lula e Dilma);
Luta contra todas as formas de terceirização;
Pelo salário mínimo do DIEESE;
Reestatização das empresas privatizadas, sob controle dos trabalhadores;
Garantia de creches para os filhos (as) dos trabalhadores (as);
Defesa do SUS 100% público e de qualidade;
Pela Petrobrás 100% estatal e sob controle dos trabalhadores;
Pela Reforma Agrária, terra pra quem nela trabalha; Reforma urbana. Teto para todos(as)!
Educação pública, estatal, gratuita e popular;
Solidariedade a todos os povos em lutas contra o capitalismo;
Desfiliação do SINTRASEM da CUT: Por um sindicato combativo e de luta!
Construir o ENCLAT: Unir para emancipar a classe trabalhadora!
Construção da greve geral e construção do socialismo!


ASSINAM ESTA TESE:
Cristovam Muniz Thiago
Janine Gomes Gentil
Mateus Graosque Mendes
Rafael Gaspar
Ricardo Gesser da Costa
Vilmar Both
Sérgio Roiandi de Oliveira
Adriana Suarez Fernandez
Ana Gabriela Pinheiro
Mariano Moura Malgarejo
Elmi cardoso Moraes
Andréia Santos da Costa Ferrão
Luiza Oliveira de Liz
Natalie Cardoso
Thaís Tressano Filó
Atos Witt Neto
Patrícia de Souza
Juliana Gomes Cavalcanti
Paula Moino Guerra
Eulina Tomaz Pereira
Rosinete Pereira Martins
Letícia Mathias
Selma Pereira da Silva
Guilherme Moura Filmiano



Notas:

1 Amortização e pagamento da dívida pública consomem 45% do PIB. O programa Bolsa Família consome menos de 1% do PIB.
2 Nota política do PCB. Disponível em: http://pcb.org.br/portal2/11050
3 Caderno de resoluções da Unidade Classista.
4 Confederação Internacional das Organizações dos Sindicatos Livres.

5 Confederação Sindical Internacional: fundada em 1949 pela social democracia com intuito de dividir o movimento operário e se contrapor aos sindicatos ligados ao movimento comunista.


Unidade Classista Santa Catarina

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